Carrinhos de bebê e cosplays: Eventos de cultura pop viram programa obrigatório para famílias em São Paulo
Longe do estigma de ser um “lugar só de adolescentes”, convenções geek atraem pais que buscam segurança e acolhimento para os filhos.
Esqueça a ideia ultrapassada de que eventos de anime e cultura pop são territórios exclusivos de adolescentes barulhentos ou fãs nichados. Em São Paulo, o cenário mudou drasticamente: os corredores das convenções, entre estandes de quadrinhos e arenas de games, estão cada vez mais disputados por carrinhos de bebê, pais “nerds” e avós acompanhantes. O motivo? Um público adulto que busca diversão, mas que, acima de tudo, prioriza a segurança.
A programadora Ana Rosa, moradora do Rio de Janeiro, ilustra bem esse movimento. Ela visitou o evento em São Paulo pela primeira vez a convite do namorado, que vive na capital paulista. Segundo ela, foi ele, (que se considera “mais otaku” do que ela) quem comprou os ingressos para levar as filhas dela.
A surpresa de Ana não foi com as atrações, mas com a hospitalidade. Acostumada a ver a cultura nerd de forma menos difundida em sua adolescência no Rio, ela se encantou com o ambiente acolhedor. “É a primeira vez que venho e minhas filhas estão adorando. Acho um evento muito seguro para crianças e famílias no geral”, conta.
Para a turista, o grande diferencial está no “código de conduta” implícito da comunidade. Em comparação com outros eventos de massa, a paciência dos frequentadores chamou a atenção. “Todo mundo que elas pararam para tirar foto, pediram para tirar foto, trataram muito bem. É bem melhor do que outras áreas, como música ou esporte”, avalia Ana, destacando que o universo nerd tende a abraçar e apoiar as crianças.
Enquanto turistas descobrem esse universo, moradores locais já transformaram a visita em tradição anual. A professora Carol, da Zona Leste de São Paulo, estava em sua quinta visita ao evento. Caracterizada como a personagem Ravena, dos Jovens Titãs, ela explica que o hábito começou com o marido, que costumava ir fantasiado sozinho. Hoje, o passeio envolve a família toda e inclui visitas a outros eventos do gênero, inclusive na região do ABC.
Para a professora, o evento transcende o lazer e serve como ferramenta educativa. A família opta conscientemente por não participar das competições oficiais de cosplay, preferindo a “brincadeira” de se vestir e circular.
“A gente não gosta muito de competir, gosta mesmo da diversão e da socialização”, explica Carol. Ela enxerga nessa atitude uma forma de trabalhar a inteligência emocional dos filhos: “Acho que a ideia de não ter um vencedor ajuda, é um bom incentivo, porque eles ainda não sabem lidar muito bem com a frustração. Sei que precisam aprender, mas nesse momento, focar na diversão funciona melhor”.
Com o público crescendo a cada ano e os corredores ficando mais cheios, a infraestrutura é colocada à prova. Segundo Carol, o espaço tem “dado conta do recado”, mas o segredo para os pais sobreviverem à maratona é o planejamento e, principalmente, a negociação.
Para garantir a paz familiar, a estratégia de Carol é intercalar as atrações para contemplar gostos distintos. “Minha filha gosta muito do ‘Just Dance’, então já fomos lá. O outro quer andar, ver os personagens e tirar fotos. A gente meio que ‘abarca’ todo mundo e consegue agradar os dois”, revela.
Seja pela segurança elogiada por quem vem de fora ou pelas lições de convivência citadas pelos veteranos, a cultura geek prova, edição após edição, que a fantasia não tem idade. Mais do que isso, mostra que a comunidade está de braços abertos para formar sua próxima geração, com respeito e diversão.
A Central de Notícias da Rádio Futura é uma iniciativa do Projeto “Revolução na psiquiatria: A humanização no legado de Nise da Silveira!”. Este projeto foi realizado com o apoio da 9ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Serviço de Radiodifusão Comunitária Para a Cidade de São Paulo.



